Que Deus existe, pode-se provar por cinco vias:
[1] A primeira e a mais manifesta é a procedente do movimento. É evidente, sendo atestado pelos nossos sentidos, que, neste mundo, alguns seres são movidos. Ora, tudo o que se move é movido por um outro. Com efeito, nada é movido a não ser que esteja em potência em relação ao termo do seu movimento, enquanto, pelo contrário, um ser move enquanto está
[2] A segunda via procede da natureza da causa eficiente. Verificamos, observando as coisas sensíveis, que há uma ordem nas causas eficientes. Mas, não se encontra, nem é possível que assim seja, uma coisa que seja a causa eficiente dela mesma, pois seria anterior a si, o que é impossível. Ora, também não é possível proceder‑se até ao infinito, porque em todas as causas eficientes ordenadas entre elas, a primeira é causa das intermédias e as intermédias são causas da última, sejam muitas as causas médias ou apenas uma só. Ora, ao remover-se a causa, remove‑se o efeito. Por conseguinte, se não há primeira causa na ordem das causas eficientes, não haverá nem última nem intermédia. Procedendo‑se ao infinito na série das causas eficientes, não haverá primeira causa eficiente; por consequência, não haveria efeito último nem causa eficiente intermédia, o que é evidentemente falso. Logo, é necessário afirmar que existe uma primeira causa eficiente que todos chamam Deus.
[3] A terceira via tem a ver com o possível e o necessário e é a seguinte. Vemos na natureza coisas que podem ser ou não ser, visto que podem nascer e desaparecer [corromper] e que, por consequência, têm a possibilidade de existir e de não existir. Mas é impossível que tudo o que é de tal natureza exista sempre, visto que, o que pode não existir, não existe num certo momento. Logo se tudo é possível não ser, então, num momento dado, poderia não haver nada na existência. Ora, se isto fosse verdade, mesmo agora não haveria nada na existência, porque aquilo que não existe apenas existe por algo já existente. Por conseguinte, se num dado momento, nada existia, seria impossível a algo começar a existir; e, deste modo, mesmo agora nada existiria, o que é absurdo. Por consequência, nem todos os seres são meramente possíveis e deve haver algum cuja existência seja necessária. Ora, tudo o que é necessário, ou extrai de outrem a causa da sua necessidade ou não. Mas é impossível proceder até ao infinito nas coisas necessárias que têm a sua necessidade causada por outrem, como se provou em relação às causas eficientes. Deste modo, é forçoso afirmar a existência de um ser por si próprio necessário, sem a receber de outrem, mas, antes, sendo causa da necessidade de outros; a tal ser, todos os homens chamam Deus.
[4] A quarta via procede da gradação que se encontra nas coisas. Vê-se, com efeito, nas coisas, maior ou menor bem, verdade, nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, uma qualidade é atribuída em maior ou menor grau a coisas diversas segundo a diferente proximidade em relação à coisa na qual esta qualidade é realizada no seu grau supremo; por exemplo, dir-se-á mais quente o que se aproxima mais do que é superlativamente quente. Há, assim, algo que é soberanamente verdadeiro, bom, nobre e, por conseguinte, soberanamente ser, pois, como é dito no segundo livro da Metafísica [Aristóteles; 993b 30], o mais alto grau de verdade coincide com o mais alto grau de ser. Por outro lado, o que está no cume da perfeição de um determinado género, é causa desta mesma perfeição em todos aqueles que pertencem a este género; assim, o fogo, que é superlativamente quente, é causa do calor do tudo o que é quente, como é dito no mesmo Livro [993b 25]. Há, pois, um ser que é, para todos os seres, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição. É a ele que nós chamamos Deus.
[5] A quinta via procede do governo das coisas. Vemos que os seres privados de conhecimento, como os corpos naturais, agem em vista de um fim, o que é manifestado pelo facto de que, sempre ou frequentemente, agem da mesma maneira, de forma a realizar o melhor resultado; é claro que eles chegam ao seu fim não por acaso, mas, sim, em virtude de uma intenção. Ora, o que é privado de conhecimento não pode chegar a um fim, a não ser dirigido por um ser conhecedor e inteligente, como a flecha através do arqueiro. Logo, há um ser inteligente através do qual todas as coisas naturais são ordenadas ao seu fim e este ser é o que nós chamamos Deus.