AS APARIÇÕES DE JACAREÍ SÃO PAULO - SP

AS APARIÇÕES DE JACAREÍ SÃO PAULO - SP
Vidente Marcos Tadeu Teixeira

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O MILAGRE QUE NEM OS ANJOS, NEM OS ARCANJOS E NEM SEQUER A VIRGEM MARIA PODE FAZER O QUE FAZ UM SACERDOTE

Quando se pensa que nem a Santíssima Virgem pode fazer o que faz um sacersdote. Quando se pensa que nem os anjos, nem arcanjos, nem Gabriel, nem Rafael, nem se quer os que venceram Lúcifer, podem fazer o que faz um sacerdote. Quando se pensa que Nosso Senhor Jesus Cristo na última ceia, fez um milagre maior do que a criação do mundo com todo seu esplendor, que foi converter o pão e o vinho, em seu próprio corpo e sangue para alimentar o mundo, e que esta coisa maravilhosa frente a qual se ajoelham os anjos e os homens, pode fazê-lo cada dia um sacerdote. Quando se pensa no outro milagre que faz um sacerdote, perdoar os pecados, e que aquilo que ele ata em seu humilde confessionário, Deus, obrigado pela sua própria palavra, esquece nossos pecados no céu, e o que o sacerdote desata na terra Deus o desata no céu. Quando se pensa que a humanidade é redimida porque tem homens e mulheres que se alimentam cada dia do corpo e do sangue de Jesus, que só um sacerdote pode realizar. Quando se pensa que o mundo morreria da pior fome se lhe faltasse esse pouquinho de pão e de vinho. Quando se pensa que isso pode acontecer, porque estão diminuindo as vocações sacerdotais, e que quando isso aconteça se comoveram os céus, e a terra explodirá, como se a mão de Deus deixara de sustentá-la, e as pessoas uivarão de fome e de angustia, pedirão esse pão mais não terão quem se os dê, e não terão quem perdoe seus pecados. Quando se pensa que um sacerdote faz mais falta que um político, mais que um militar, mais que um banqueiro, mais que um médico, mais que um mestre, porque o sacerdote pode substituir a todos, mais eles não podem substituir ao sacerdote. Quando se pensa que um sacerdote quando celebra no altar, tem mais dignidade do que um rei, e que não é um símbolo, nem um embaixador de Cristo, é Cristo mesmo, que está no altar, repetindo o maior milagre de Deus. Quando se pensa tudo isto, compreeendemos a necessidade de formentar ou promover as vocações sacerdotais. Por tanto, o pior crime que uma pessoa pode fazer é impedir ou desalentar uma vocação sacerdotal. Por tanto se uma mãe ou um pai obstruem a vocação sacerdotal de um filho, estão renunciando a um título de nobreza incomparável. A obra de Deus sofre sempre perseguição, e o demônio fica nervoso por tanto, faz tudo o possível para estragar a vocação. Se ele consegue estragar a vocação, feliz êxito para ele, mas se não consegue, ele sabe que a glória de Deus brilhará com mais esplendor. Por isso faz todo o esforço para evitar que um jovem ingresse num seminário. Quando se pensa tudo isso, se compreende que um seminário e um noviciado são mais importantes que um colégio, que um hospital. Compreendemos que manter ou construir um seminário é multiplicar os nascimentos do Redentor. Compreendemos que ajudar a um seminarista para pagar seus estudos, é aplainar o caminho por onde subirá ao altar um homem, que durante uns momentos será mais que toda dignidade da terra e do céu, porque será o mesmo Cristo, sacrificando seu próprio corpo e sangue, para alimentar ao mundo. o mesmo Cristo, sacrificando seu prdo centos sers, num semin

HISTORIA DA SAGRADA FAMÍLIA DE NAZARÉ

Em Nazaré, cidade da região da Judéa, um carpinteiro chamado José preparava-se para se casar com uma virgem mulher chamada Maria. Ela fora escolhida entre todas as virgens, para que fosse com ele uma só carne até a morte: “Maria, sua esposa, estava desposada com José.” (Mt 1,8) As mulheres daqueles séculos se tinham por felizes em poder seguir seus maridos, e ainda, desejam ajudá-los levando até eles o pão e água fresca nos dias de trabalho, e depois de volta, atarefadas, põe-se em movimento para preparar-lhes a mesa para uma boa refeição. São gratas e os amam sem pedir-lhes nada em troca. Esta é a condição daquela época, os homens tinham total autoridade para com as mulheres que foram sempre submissas e tratadas como suas servas sem que assegurassem benefícios algum. Com efeito, desde o momento em que o Anjo Gabriel entra, aproxima-se da simples mulher e a saudou em sua casa, Maria esteve fora de si e envolvida num êxtase profundo de que nada a pode despertar: “Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alega-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’ Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.” (Lc 1,28-29) Maria, então, não se cansa de contemplá-lo, de senti-lo presente e próximo de si. Nada vê e a nada ouve senão que o anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo.” Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso se eu não conheço homem algum?” O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus” (Lc 1,30-37) Alegra-se Maria quando o Anjo lhe fala, suas palavras entram-lhe no coração e ai ficarão até a morte. O “SIM” de Maria inaugura a plenitude dos tempos, como aquela que o Pai escolheu para Mãe do seu Filho na encarnação. E Maria louva a Deus em alta voz dizendo-lhe: “Eis me aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra! E o anjo a deixou.” (Lc 1,38) Naquela ocasião, em Nazaré, José e Maria, “antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo.” (MT 1, 18) Mas José por meio das dúvidas incertas acerca da gravidez de Maria sua esposa, logo chegou a suspeita que tanto desagradava seu coração e inquieto aparentemente parece acreditar numa traição. Agora passa muitas coisas na cabeça do operário José, que talvez considerasse sua gravidez um vergonhoso adultério. Apesar dos preceitos da Lei mosaica ser um tanto rigoroso, o povo judeu seguia ainda observando seus antigos costumes e tinham o adultério como uma forma detestável que insultava os Céus. Mas o delito da esposa repudiada poderá justificar o novo casamento do esposo traído. Não podem amá-las, nem suportá-las e preferem a elas uma morte infame em nome da liberdade: "Tal é a lei sobre o ciúme quando uma mulher se desviar de seu marido e se manchar, ou quando o espírito de ciúme se apoderar de seu marido, de modo que ele se torne ciumento de sua mulher; ele a levará diante do Senhor e o sacerdote lhe aplicara integralmente essa lei. O marido ficara sem culpa, mas a mulher pagará a pena da sua iniquidade." (Nm 5,29-31) Também os chefes das sinagogas, os covardes implacáveis, que querendo se erigir em juízes do povo, muitas vezes, detestavam-nas desde o momento em que fora acusadas impiedosamente e jogadas aos seus pés. Tal como se nos apresenta o Evangelho de João 8,4-5: "Os escribas e os fariseus trouxerma-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. Moíses mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres." Deste o primeiro momento foram arrastadas pelos cabelos com a força e a brutalidade também ao mesmo suplicio como animais sem dono e sem defesa. Nem mesmo ouvindo aquelas palavras de compaixão seus corações corrompidos de ódio se calaram a boca, era como se estivessem sozinhas. Na hora do arrependimento manifesto recebe desprezo por quem implorar perdão. No entanto, sabia, pois, José não pode absolver a sua esposa ainda grávida que desobedecera á Lei de Deus, mas não quer também condená-la na sua vergonha, não ousava acusá-la a público para que seja apedrejada. Porque os seus acusadores não têm o direito de exigir-la a morte e ainda estende-lhes as mãos e arremessarem contra ela as pedras homicidas. E em vez levá-la a julgamento público e condená-la a morte, porém, José sofre calado e em suspeitas quer deixar-la e revolve fazer-lo em segredo, baseado na traição que entristece muito a sua humildade: “José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.” (Mt 1,19) Somente um Anjo do Senhor enviado por Deus ao encontro do carpinteiro poderia revelar a este sua missão de pai adotivo. O anjo quando entra no sono de José, anuncia-lhe a feliz notícia que Deus escolhera Maria para ser Mãe do Salvador do mundo. “Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará a luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.” (MT 1,20-21) Antes de partir, o mesmo Anjo enviado por Deus ordenou, de agora em diante, Maria não é mais apontada como a mulher pública, senão, que agora José reconhece em Maria a mulher virgem como portadora de todas as graças. As lágrimas de alegria pela verdade achada estão ainda estampadas no rosto deste carpinteiro que agora lamenta a sua vergonha e confusão diante do Anjo, pois, é a pureza de Maria colocada a provas terríveis dos ultrajes ainda em vida. Mas Maria não precisa ser purificada, porque onde existe a pureza de duas virgindades santas em nada trai, senão, que mais os assemelhavam a Deus. E José prometera-lhe ao Anjo, hoje mesmo acolherá Maria em sua casa baixo sua proteção: “Despertando, José fez como o Anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.” (Mt 1,20-21;24) Agora nem julga digno de tocar a carne de sua mulher, mas só ele é capaz de compreender o seu silêncio. Amado por Maria virgem como nenhum homem o poderá ser jamais, o casto José viverá ao seu lado como quem a ama e sem que ele a tivesse conhecido, Maria deu à luz ao menino “que recebeu o nome de Jesus.” (MT 1,25) A história de Zacarias e Isabel, era prima de Maria, já com a idade bastante avançada entristecia-nos, pelo fato não tivera um filho antes da morte, pois, Isabel era uma mulher estéril. “Naquele tempo não ter filhos era considerado um castigo divino pelos pecados cometidos.” Mas através da manifestação da fé em Deus, eis que o Senhor envia teu Anjo para anunciar a Zacarias uma grande alegria, finalmente Isabel não experimentara a morte sem antes conceber um filho, e “ele se chamará João.” (Lc 1,60) Alegra-se Zacarias, pois Deus tenha usado de misericórdia para com eles, “e logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus.” (Lc 2,64) Após ter recebido a notícia que a sua prima Isabel, mulher de Zacarias, estava grávida e em breve daria à luz um filho, Maria apressou-se a ir visitá-la. “Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.” (Lc 1,39) Chegado lá, Maria “entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel. Ora, que apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou no seu ventre; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.” (Lc 1, 40-41) Então atarefada, Maria grávida, pois a servir sua prima Isabel sempre a oferecê-la do que precisava e depois corre a prepara a mesa para a refeição, e “Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.” (Lc 1,56) Neste tempo, os romanos da massa dos fraudulentos sempre acima dos caprichos dos povos governados com autoridade por tantos séculos, mantiveram o povo na miséria a serviço do imperialismo romano. É verdade o povo, injustiçado e enganado, não saberia o que fazer vivendo dizimados, oprimidos e abandonados a uma dinastia bárbara de César Augusto, imperador de Roma e desprezo dos Judeus, de quem apoderava pela fraude o pouco que possuíam com mais tributos. Como se não bastar-se a miséria do povo, agora sonham apoderar-se também das esmolas o único sustento que lhes restam aos pobres. Frente ao governo popular, nunca o capitalismo enriqueceu tanto o império romano, como pelas mãos e regimes ditados pelo monarca Pilatos defensor de Roma. Agora a ordem decretada como lei oficial, escrito em nome de César e que levava o selo real, foi espalhada de modo que todos pudessem ler ou ouvir de acordo em todas as províncias do teu reino. Caso então os Judeus não partissem imediatamente, era dada ordem para que seus bens fossem confiscados no mesmo dia: “Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade.” (Lc 2,1-3) No entanto, José que era homem de bem estava lá e não recusava obedecer à menor lei de Deus como dos homens. Pois este pertencia à descendência do rei Davi nascido na cidade de Belém da Judéia, para lá devia partir José. Preocupado com o estado de saúde da sua mulher grávida, José não podia mais esperar e partiu de manhã bem cedo, deixando o trabalho, subiu para Belém e Maria o acompanhou na poeira da estrada para a região da Judéia. Depois desse dia, todos haviam abandonados suas casas atrás e se afastaram rapidamente de Nazaré. O que os esperava dias de fadigas e horas sem fim de viagem: “Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, á cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela.” (Lc 2,1-6) Naquela noite onde não havia lugar para sua mulher grávida, José leva Maria a uma hospedaria. Estava cansado e ela com dores de parto, então, inclinou-se sobre a abertura da janela, teus olhos vêem o clarão da luz da ceia, ouvem as conversas, mas não podem entrar “por que não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 2,7) Mas José não se dá por vencido, magoado pela recusa, corre de uma casa para outra tropeçando pelas pedras do caminho, mendigava ás portas de estranhos um pouco de abrigo; bate, chama, suplica e ninguém lhes vem abrir. Mas todos dormem afim de não ouvi-lo, os comércios estão fechados e os cães latem após sua passada. A meia noite venceu o cansaço, José bate á porta de um desconhecido, seu último gemido o acorda, o amigo sonolento abre e, ouviu-se então, através da porta o murmúrio desesperado do estrangeiro a procura de um lugar para descanso. E o pobre homem vendo-os sem lar e sem um leito para deitar-se, fez alguma coisa por compaixão da sua pobreza, e José vê nesse menor sinal de que Deus o Pai não os abandonou. Valeu-se do amor que dedicava a virgem Mãe e a criança, e para suportar a dor deste desterro José cuidava que nada faltassem a sua mais sagrada família. A miséria em que se encontram é tão pavorosa, que estão obrigados a refugiar-se em um estábulo de animais, imundície em que nasceu Jesus de uma virgem sem mancha. Naquela obscura habitação era o lugar mais imundo que serviu então de abrigo improvisado onde Maria, mulher virgem e bela, concebida do Espírito Santo em grande santidade e em perfeita pureza de coração, “deu a luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio.” (Lc 2,7) Naquela mesma noite a noticia chegou até os pastores da vizinhança nos arredores da cidade de Belém “que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite. Um Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor.” (Lc 2,8-9) Alegraram-se, pois, os pastores ao ouvirem do Anjo mensageiro que os anunciam do nascimento do Salvador prometido a Israel, e o “Anjo disseram-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura. Depois que o Anjo os deixou e voltaram para o céus,” (Lc 2,10-12;15) Os pastores agora são chamados para conhecer os mistérios do Reino dos Céus e também a contemplar com os próprios olhos as alegrias até mesmo das multidões dos Anjos sob os céus festivos, “louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens de boa vontade.” (Lc 2,13-14) Durante toda noite de natal, era necessário que descesse da glória o Anjo para levar aos homens de boa vontade e anunciar-lhes com esperança a feliz mensagem deste dia profetizado pelos profetas: “Mas, quando fez entrar o primogênito no mundo, Deus diz: Todos os anjos devem adorá-lo.” (Hb 1,6) Os pastores comovidos com o acontecimento daquela noite, eles teriam corrido para o estábulo para ver o filho da estrangeira: “Foram com grande presa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura. Vendo-o, contaram o que lhes o que o Anjo havia dito a respeito do menino. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores. Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração. “Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como o que lhes fora dito.” (Lc 2,16-20) Muitos anos escondidos nos desertos os magos do oriente que não possuíam na sua época moradias e também desconhece o luxo das cidades tão distantes. Com suas vidas antigas e sabias eram os únicos interpretadores dos mais obscuros aos mais notáveis acontecimentos já vistos na astrologia, assim como dos sonhos são os adivinhos. Ao cair da tarde, levantavam-se as tendas, as sombras dão repouso aos seus corpos cansados. As últimas horas da noite, um Anjo do Senhor vinha visitá-los, “e o Anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.” (Lc 2,10-12) No dia da manhã seguinte, os três magos partiram da região da Caldéa, “exultantes de alegria, sabem que verão com os próprios olhos o Senhor.” (Is 52,8) E com grande pressa puseram-se a caminho de Jerusalém: “Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou.” (Lc 2,15) Eles vagam seus dias atravessando desertos áridos no costado dos camelos. A noite vem para saudá-los e uma estrela guia-os brilhante no céu noturno, “a aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.” (Mt 2, 10) E foi conduzindo-os até os portões da cidade de Jerusalém: “Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.” (Mt 2,1) Mas o povo Judeu indignado com a presença dos magos, que jamais os viram antes desse dia, agitava-se nos pátios. Mas chegaram enfim exaustos de cansaço e cheios de emoção, e ainda foram recebidos como hospedes importunos. Estas aclamações encheram de rumores a cidade e logo chegara aos ouvidos do rei que saiu para ver o que se passava. O tumulto despertava em Herodes sua curiosidade. Alguns guardas foram enviados até os viajantes misteriosos, e viram os servos do Senhor vindo do oriente e os levou para dentro do pátio interno do Palácio do rei. Porque estes homens de longos mantos e de longas barbas pareceram-lhes importantes demais para não os ouvirem. Sem retomarem o fôlego, os magos queriam dizer diante de todos e sob o testemunho claro da estrela a verdade definitiva sobre Jesus: “Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2) Já Herodes este assassino quando soube deles que tinha nascido um Rei na Judéia, estremeceu o seu coração de bárbaro: “A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.” (Mt 2,3) Seus olhos quase sem crer temia a aproximação daquele cujo não podia ser o anunciado Salvador, o messias esperado e o Rei prometido de Israel. Como quase todos os discípulos de Jesus Cristo esperavam a vinda do Messias libertador, mas filho de Israel que de Deus. Um Messias carnal, guerreiro e político, que libertasse a Israel da escravidão do poder romano e não do pecado: “Senhor é porventura agora que ides restaurar o reino de Israel.” (At 1,6) Obedientes ao seu menor mandato, tinham vindo do Sinédrio todos “os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo.” (Mt 2,4) Estes aduladores dos poderosos sobem até o palácio do rei com muita soberba exterior. No centro dos olhares do povo indignados, Herodes esperava-os impaciente e chegaram envolvidos com suas mais belas vestes. Diante do rei os doutores da lei, como eram chamados, ao que parece tomando ares ignora-os e se escarnece deles como de um espetáculo inventado pelos magos. Á primeira vista, deverão crer na sua hipocrisia sacerdotal mesmo contra a evidência dão uma idéia equivalente de “onde havia de nascer o Cristo. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta: “E tu Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo.” (Mt 2,4-6) Mas desta vez, o rei não conteve a sua indignação e o seu desgosto retirou-se para uma outra sala, não esteve sozinho, mas acompanhado dos magos, a fim de certificar-se o mais cedo possível onde havia de encontrar o falso cristo, o indesejável: “Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que os astros lhes tinha aparecido.” (Mt 2,4-7) Vendo ele que nada podia obter tendo não satisfeito sua ambição e ocultando as piores intenções mandou-os que partissem “e, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo. Tendo eles ouvidos as palavras do rei, partiram” (Mt 2,8-9) no meio da noite e desapareceu tão depressa pelos caminhos áspero que leva á cidade de Belém, “e eis que a estrela, que tinha visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.” (Mt 2,9) Quando chegaram se aproximam da abertura da gruta, seus corações encheram-se de compaixão e entraram, ainda encontraram o menino recém-nascido deitado na miserável manjedoura em que repousava, e com carinhosa delicadeza Maria sua mãe toma a criança nos braços e o apresenta para os magos adorá-lo: “Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe.” (Mt 2,11) E os magos ajoelhados sobre a palha cercavam-no, e prostrando-se diante da criança o adoraram e depois abrindo seus tesouros ofereceram-lhe o pouco que possuíam e cada um lhe traz o seu presente era as ofertas mais generosas: “ouro, incenso e mirra” (MT 2,11) como prova da sua consagração ao amor de um Deus único; cumpriu-se, então, o que foi dito: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás.” (Deut 6,13) Na manhã seguinte a grande noite termina, a hora se aproxima da partida, os magos estavam ainda acordados e sem retomarem o fôlego os três viajantes deviam voltar nesta manhã para sua terra natal. Após uma noite sem descanso, partiram era cedo em jejum e cansados como estavam sem uma palavra afastaram-se rapidamente do povoado de Belém na Judéa, contudo, os magos não voltaram para Jerusalém: “avisados em sonhos de não tornaram a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.” (Mt 2,12) Quando soube Herodes “que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado.” (Mt 2,16) E agora para legitimar a sua realeza ameaçada pelo menino, o rei sempre cioso dos teus privilégios, parte acompanhado dos teus carrascos soldados de que dispunha para cidade de Belém na Judéia. Chegado lá, ao redor de berços inocentes ordenou covardemente a matanças de todos os recém-nascidos “e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos.” (Mt 2,16) Depois da última noite José não mais dormirá, um Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e disse: “levanta-te toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.” (Mt 2,13) Mas agora, apoiados na proteção paterna de São José Maria parte como uma fugitiva, leva o seu filho as escondidas para uma terra estrangeira longe dos teus perseguidores e o seu coração sofre em aflição. Assim se cumpria a profecia que anunciava ao seu terror o que devia acontecer: “Quem confia naquele que não tem morada, e naquele que passa a noite onde quer que a noite o surpreenda? Ou que vagueia de cidade em cidade como um ladrão sempre prestes a fugir?” (Eclo 36,28) Pouco tempo depois, Herodes enfim morreu após cometido teu último crime ainda em vida a matança dos inocentes. Antes sofreu males vergonhosos e padeceu desgraças insuportáveis. Então, “com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.” (Mt 2,19-20) O exílio no Egito foi curto e logo a criança foi levada de volta nos braços de sua mãe para a casa de Nazaré, abrigo pobre onde as mãos calejadas do humilde carpinteiro trabalhava até a noite para o sustento da casa.

sábado, 16 de janeiro de 2010

SOBRE A NECESSIDADE DE UMA FÉ MAIS PROFUNDA

Deve-se, desde o início, falar da necessidade de uma fé mais profunda, por causa dos perigos provindos de erros gravíssimos, atualmente espalhados pelo mundo, e por causa da insuficiência dos remédios a que freqüentemente recorremos contra eles. Os perniciosos erros que se espalham pelo mundo, tendem à descristianização completa dos povos. Ora, isto começa com a renovação do paganismo no século XVI, ou seja, com a renovação da soberba e da sensualidade pagã entre cristãos. Este declínio avançou com o protestantismo, por sua negação do Sacrifício da Missa, do valor da absolvição sacramental e, por conseqüência, da confissão; por sua negação da infalibilidade da Igreja, da Tradição ou Magistério, e da necessidade de se observar os preceitos para a salvação. Em seguida, a Revolução francesa lutou manifestamente para a descristianização da sociedade, conforme os princípios do Deísmo e do naturalismo — isto é: se Deus existe, não cuida das pessoas individuais, mas somente das leis universais. O pecado, por estes princípios, não é uma ofensa à Deus, mas apenas um ato contra a razão, que sempre evolui; assim, considerava-se o furto como pecado enquanto se admitia o direito à propriedade individual; porém, se a propriedade individual é, como dizem os comunistas, contrário ao que se deve à comunidade, nesse caso, é a própria propriedade individual que é furto. Em seguida, o espírito da revolução conduziu ao liberalismo que, por sua vez, queria permanecer numa meia altitude entre a doutrina da Igreja e os erros modernos. Ora, o liberalismo nada concluía; não afirmava, nem negava, sempre distinguia, e sempre prolongava as discussões, pois não podia resolver as questões que surgiam do abandono dos princípios do cristianismo. Assim, o liberalismo não era suficiente para agir, e após ele veio o radicalismo mais oposto aos princípios da Igreja, sob a capa de “anticlericalismo”, para não dizer anticristianismo. Assim, os maçons. O radicalismo, então, conduziu ao socialismo e o socialismo, ao comunismo materialista e ateu, como agora na Rússia, e quis invadir a Espanha e outras nações negando a religião, a propriedade privada, a família, a pátria, e reduzindo toda a vida humana à vida econômica como se só o corpo existisse, como se a religião, as ciências, as artes, o direito fossem invenções daqueles que querem oprimir os outros e possuir toda propriedade privada. Contra todas essas negações do comunismo materialista, só a Igreja, somente o verdadeiro Cristianismo ou Catolicismo pode resistir eficazmente, pois só ele contém a Verdade sem erro. Portanto, o nacionalismo não pode resistir eficazmente ao comunismo. Nem, no campo religioso, o protestantismo, como na Alemanha e na Inglaterra, pois contém graves erros, e o erro mata as sociedades que nele se fundam, assim como a doença grave destrói o organismo; o protestantismo é como a tuberculose ou como o câncer, é uma necrose por sua negação da Missa, da confissão, da infalibilidade da Igreja, da necessidade de observar os preceitos. O que, pois, se segue dos erros citados no que diz respeito à legislação dos povos? Esta legislação torna-se paulatinamente atéia. Não somente desconsidera a existência de Deus e a lei divina revelada, tanto positiva como natural, mas formula várias leis contrárias à lei divina revelada, por exemplo, a lei do divórcio e a lei da escola laica, que termina por tornar-se atéia, nos três graus: escolas primárias, liceus ou ginásios e universidades, nas quais freqüentemente reduz-se a religião à história mais ou menos racionalista das religiões, na qual o cristianismo somente aparece como no modernismo, como uma forma agora mais alta da evolução de um senso religioso que sempre muda, de modo que nenhum dogma seria imutável nem imutáveis os preceitos; por fim, vem a liberdade total de cultos ou religiões, e da própria impiedade ou irreligião. Ora, as repercussões destas leis em toda sociedade são enormes; tome, por exemplo, a repercussão da lei do divórcio: qualquer que seja o ano, qualquer que seja a nação, milhares de famílias são destruídas pelo divórcio e deixam sem educação, sem direção, crianças que terminam por se tornar ou incapazes, ou exaltadas, ou más, por vezes, péssimas. Do mesmo modo, saem da escola atéia, todos os anos, muitos homens ou cidadãos sem nenhum princípio religioso. E portanto, em lugar da fé, da esperança e da caridade cristã, têm eles a razão desordenada, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, o desejo de riqueza e a soberba de vida. Todas essas coisas são erigidas em um sistema especial materialista, sob o nome de ética laica ou independente, sem obrigação e sanção, na qual às vezes remanesce algum vestígio do decálogo, mas um vestígio sempre mutável. Se, porém, os efeitos dolorosíssimos destes erros perniciosos ainda não aparecem claramente na primeira geração, na terceira, quarta e quinta se manifestam segundo a lei da aceleração na queda. — É como na aceleração da queda dos corpos: se numa 1a. etapa da descida, a velocidade é como que 20, numa 5ª será como que 100. E isto se contrapõe ao progresso da caridade, que, segundo a parábola do semeador, é por vezes 30, 50, 100 para um. É a verdadeira descristianização ou apostasia das nações. E isto foi exposto justamente na longa epístola do grande católico espanhol Donoso Cortes escrita ao Cardeal Fornari para que a apresentasse à Pio IX; o título dela é: Sobre o princípio generativo dos graves erros hodiernos (trinta páginas) e Discurso sobre o estado atual da Europa (1830). Cf. Opera do mesmo autor 5 vol. Madrid 1856: trad. Fr, 1862, t. II, p 221, ss; t. I, p 399; trad. It. 1861. Em seguida, a mesma série de erros foi exposta no Silabo de Pio IX, 1861 (Dz. 1701). O princípio destes erros é: Se Deus existe, não cuida das pessoas individuais, mas somente, das leis universais. Daí o pecado não ser uma ofensa contra Deus, mas somente contra a razão, que sempre evolui. Disto segue que não existiu o pecado original, nem a Encarnação Redentora, nem a graça regenerativa, nem os sacramentos que causam a graça, nem o sacrifício e, por isso, não é útil o sacerdócio, nem é útil a oração. No fundo, o Deísmo não parece verdadeiro, pois se os homens individualmente não precisam de Deus, porque se admitiria que Deus existe no céu? É preferível admitir que Deus se faz na humanidade, que é a tendência mesma ao progresso, à felicidade de todos, sobre a qual falam o socialismo e o comunismo. Portanto, qual é, segundo este princípio, o modo de discernir o falso do verdadeiro? O único modo é a livre discussão, no parlamento ou em algum outro lugar, e esta liberdade é, portanto, absoluta, nada pode ser subtraído à sua jurisdição, nem a questão do divórcio, nem a necessidade da propriedade individual, nem a da família ou da religião para os povos. Assim, a discussão fica libérrima, como se não existisse a Revelação divina; se se objeta, por exemplo, que o divórcio é proibido no Evangelho, isto pouco importa. Destas coisas nascem como é patente, grandes perturbações, inúmeros abortos, crimes, e não se encontra remédio, senão o de aumentar cada vez mais a polícia ou o exército. Mas, a polícia obedece àqueles que estão no poder e não raro, depois destes, vêm seus adversários e ordenam o contrário. De outra parte, tendo-se suprimido a propriedade privada, suprime-se, de modo geral, o patriotismo, que é como a alma do exército. Donde estes remédios não serem suficientes para conservar a ordem e evitar as graves e intermináveis perturbações, pois não mais se admite a lei divina, e nem a lei natural escrita por Deus em nossos corações (E tudo isso é uma demonstração per absurdum da existência de Deus) Neste caso, é para se concluir com Donoso Cortes que estas sociedades, fundadas sobre princípios falsos ou sobre uma legislação atéia, tendem para a morte. Nelas, com o auxílio da graça, as pessoas individuais podem ainda se salvar, mas estas sociedades, como tais, tendem para a morte, pois o erro, sobre o qual se fundam, mata como a tuberculose ou o câncer que, progressiva e infalivelmente, destrói nosso organismo. — Só a fé cristã e católica pode resistir a estes erros, e tornar a cristianizar a sociedade, mas, para isso, requer-se uma condição, uma fé mais profunda, conforme a Escritura: Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. (1 Jo 5, 4). (De Sanctificatione Sacerdotum,)

A PREDESTINAÇÃO DE SÃO JOSÉ E SUA EMINENTE SANTIDADE

Não se pode escrever um livro sobre a Santíssima Virgem sem falar da predestinação de São José, de sua eminente perfeição, do caráter próprio de sua missão excepcional, de suas virtudes e de seu atual papel na santificação das almas. Sua preeminência sobre todos os outros santos cada vez mais afirmada na Igreja. A doutrina segundo a qual São José é o maior dos santos depois da Virgem Maria tende a tornar-se uma doutrina comumente aceita na Igreja, que não teme declarar o humilde carpinteiro superior em graça e em beatitude aos patriarcas, a Moisés, aos maiores dos profetas, a São João Batista, e também aos apóstolos, a São Pedro, a São João, a São Paulo, e por mais forte razão superior em santidade aos maiores mártires e aos maiores doutores da Igreja. O menor, por sua profunda humildade, é em razão da conexão das virtudes, o maior pela elevação da caridade: “Qui minor est inter vos, hic major est” (Luc. IX, 48) Essa doutrina é ensinada por Gerson[1] e por São Bernardino de Sena[2]. A partir do século XIV, torna-se cada vez mais corrente, é admitida por Santa Teresa, pelo dominicano Isidoro de Isolanis, que parece ter escrito o primeiro tratado sobre São José[3], por São Francisco de Sales, por Suárez[4], mais tarde por Santo Afonso Maria de Ligório[5], mais recentemente pelo cônego Sauvé[6], pelo cardeal Lepicier[7]e por M. Sinibaldi[8]; essa doutrina está bem exposta no Dicionário de Teologia Católica, no artigo Joseph (saint), por A-M. Michel. Além disso, recebeu a aprovação de Leão XIII na encíclica Quanquam pluries, de agosto de 1899, escrita para proclamar o patrocínio de São José sobre a Igreja universal. Ele diz: “Certamente a dignidade da Mãe de Deus é tão alta que nada pôde ser criado acima dela. No entanto, como José foi unido à bem-aventurada Virgem pelo laço conjugal, não se pode duvidar que ele se tenha aproximado mais do que ninguém, dessa dignidade supereminente pela qual a Mãe de Deus ultrapassa tanto todas as naturezas criadas. A união conjugal é, com efeito, a maior de todas; em razão de sua própria natureza, ela acompanha-se da comunicação recíproca dos bens dos dois esposos. Se, pois, Deus deu à Virgem José como esposo, certamente não somente o deu como apoio na vida, como testemunho de sua virgindade, guarda de sua honra, mas o fez também participar, pelo laço conjugal, da eminente dignidade que ela recebeu.” [9] Tendo Leão XIII afirmado que São José se aproximou mais do que ninguém da dignidade supereminente da Mãe de Deus, segue-se que, na glória, ele está acima de todos os anjos? Não o poderíamos afirmar com certeza; contentemo-nos em exprimir a doutrina cada vez mais aceita pela Igreja, dizendo: De todos os santos, José é o mais elevado no céu depois de Jesus e Maria; ele está entre os anjos e os arcanjos. A Igreja, na oração A cunctis, nomeia-o imediatamente depois de Maria e antes dos apóstolos. Se não está mencionado no Cânon da missa,[10] não só tem um prefácio especial mas todo o mês de março lhe é consagrado como o protetor e defensor da Igreja universal. A ele, em sentido real, ainda que oculto, é particularmente confiada a multidão de cristãos de todas as gerações que se sucedem. É o que exprimem as belas ladainhas aprovadas pela Igreja que lhe resumem as prerrogativas: “São José, ilustre filho de Davi, luz dos patriarcas, Esposo da Mãe de Deus, guarda da Virgem pura, nutrício do Filho de Deus, zeloso defensor de Cristo, chefe da Sagrada Família, José justíssimo, castíssimo, prudentíssimo, fortíssimo, obedientíssimo, fidelíssimo, espelho de paciência, amador da pobreza, exemplo dos trabalhadores, honra da vida doméstica, custódia das virgens, amparo das famílias, alivio dos miseráveis, esperança dos enfermos, padroeiro dos moribundos, terror dos demônios, protetor da santa Igreja.” Nada é tão grande depois de Maria. A razão dessa supereminência?

Qual é o principio dessa doutrina cada vez mais admitida desde há cinco séculos?

O princípio invocado, e cada vez mais explicitado por São Bernardo, São Bernardino de Sena, Isidoro de Isolanis, Suárez e autores mais recentes, é um principio tão simples quanto elevado; foi formulado por Santo Tomás a propósito da plenitude da graça em Jesus e da santidade de Maria. Ele se exprime assim: uma missão divina excepcional requer uma santidade proporcionada. Esse princípio explica por que a santa alma de Jesus, estando unida pessoalmente ao Verbo, na fonte de toda a graça, recebeu a plenitude absoluta da graça, que devia transbordar sobre nós, segundo a palavra de São João (I, 16): “De plenitude ejus omnes accepimus.”[11] É também a razão por que Maria, tendo sido chamada para ser a Mãe de Deus, recebeu desde o instante de sua concepção uma plenitude inicial de graça, que já ultrapassava a graça final de todos os santos reunidos. Mais, perto da fonte de toda a graça, ela devia beneficiar-se disso mais do que qualquer outra criatura[12]. Foi também por essa razão que os Apóstolos, mais perto de Nosso Senhor que os santos que viriam em seguida, conheceram mais perfeitamente os mistérios da fé. Para pregar infalivelmente o Evangelho no mundo, eles receberam em Pentecostes uma fé eminentemente esclarecida e inabalável, princípio de seu apostolado[13]. Esse mesmo princípio explica a preeminência de São José sobre qualquer outro santo. Para compreender bem este ponto, é preciso notar que as obras de Deus que são feitas diretamente por Ele são perfeitas. Não se poderia encontrar nelas nem desordem nem imperfeição sequer. Assim foi a obra divina no dia da criação, desde as mais altas hierarquias angélicas até as criaturas mais ínfimas[14]. Ainda é assim para os grandes servidores que Deus mesmo escolhe excepcionalmente e diretamente, sem intermediação de alguma escolha humana, ou que são suscitados por ele para restaurar a obra divina perturbada pelo pecado. No princípio enunciado mais acima, todas as palavras devem ser pesadas: “Uma missão divina excepcional requer uma santidade proporcionada.” Aqui não se trata de missão humana, por mais alta que seja, nem de missão angélica, mas de missão propriamente divina, e não missão divina ordinária, mas tão excepcional que no caso de São José é de fato única no mundo em todo o decorrer dos tempos. Percebe-se melhor ainda a verdade desse principio, tão simples quanto elevado, quando se considera, por contraste, como procede muitas vezes a escolha humana. Muitas vezes os homens escolhem para altas funções de um governo difícil pessoas incapazes, medíocres, imprudentes. O que leva um país à ruína se não houver uma reação salutar. Não se poderá encontrar nada de parecido nos que são diretamente escolhidos por Deus mesmo e preparados por ele para ser ministros excepcionais na obra da Redenção. O Senhor lhes dá uma santidade proporcionada, pois Ele opera tudo com medida, força e suavidade. Assim como a alma de Jesus recebeu, desde o instante de sua concepção, a plenitude absoluta de graça, que não aumentou em seguida; como Maria, desde o instante de sua concepção imaculada, recebeu uma plenitude inicial de graça que era superior à graça final de todos os santos e que não cessou de aumentar até sua morte; assim, guardadas as devidas proporções, São José deve ter recebido uma plenitude relativa de graça proporcionada à sua missão, já que foi diretamente e imediatamente escolhido não pelos homens, por nenhuma criatura, mas por Deus mesmo e unicamente por Ele para essa missão única no mundo. Não se poderia precisar em que momento teve lugar a santificação de São José, mas o que temos direito de afirmar é que, em razão de sua missão, ele foi confirmado na graça desde seu casamento com a Santíssima Virgem.[15]

A que ordem pertence a missão excepcional de José?

É evidente que ela ultrapassa a ordem da natureza, não somente a da natureza humana mas a da natureza angélica. Será somente da ordem da graça como a de São João Batista, que prepara as vias da salvação, como a missão universal dos Apóstolos na Igreja para a santificação das almas ou como a missão particular dos fundadores de ordens? Se a olharmos de perto, vê-se que a missão de São José ultrapassa a própria graça, e que confina por seu termo com a ordem hipostática constituída pelo próprio mistério da Encarnação. Mas é preciso compreendê-lo bem, evitando qualquer exagero como qualquer diminuição. A ordem hipostática limita-se à missão única de Maria, a maternidade divina, e também em certo sentido à missão escondida de São José. Esse ponto de doutrina é afirmado por São Bernardo, por São Bernardino de Sena, pelo dominicano Isidoro de Isolanis, por Suárez e, cada vez mais, por vários autores recentes. São Bernardo diz de José: “Ele foi o servidor fiel e prudente que o Senhor constituiu como o sustentador de sua Mãe, o pai nutrício de sua carne, e o único cooperador fidelíssimo na terra do grande desígnio da Encarnação.”[16] São Bernardino de Sena escreve: “Quando Deus escolhe alguém para uma missão muito elevada, confere-lhe todos os dons necessários para essa missão. É o que se verifica eminentemente com São José, pai nutrício de Nosso Senhor Jesus Cristo e esposo de Maria...”[17] Isidoro de Isolanis chega a pôr a vocação de São José acima da dos Apóstolos. Ele nota que a vocação dos Apóstolos tem por fim pregar o Evangelho, esclarecer as almas, reconciliá-las, mas que a de José é mais diretamente relativa ao próprio Cristo, já que é o esposo da Mãe de Deus, o pai nutrício e defensor do Salvador[18]. Suárez também diz: “Alguns ofícios saem da própria ordem da graça santificante, e, no gênero, os Apóstolos tiveram a graça mais elevada, e também tiveram necessidade de mais socorro gratuito que os outros, sobretudo no que concerne aos dons gratuitamente dados e à sabedoria. Mas há outros ofícios que confinam com a ordem da união hipostática, em si mais perfeita, como se vê claramente na maternidade divina da bem-aventurada Virgem Maria; é a essa ordem de ofícios que pertence o ministério de São José.”[19] Há alguns anos Mons. Sinibaldi, bispo titular de Tiberíades e secretário da Sagrada Congregação dos Estudos, especificou este ponto de doutrina. Observou que o ministério de São José pertence, em certo sentido, por seu termo, à ordem hipostática: não que São José tenha intrinsecamente cooperado, como instrumento físico do Espírito Santo, na realização do mistério da Encarnação; deste ponto de vista seu papel é muito inferior ao de Maria, Mãe de Deus; mas, enfim, ele foi predestinado a ser, na ordem das causas morais, o guarda da virgindade e da honra de Maria e ao mesmo tempo o pai sustentador e protetor do Verbo feito carne. “Sua missão pertence, por seu fim, à ordem hipostática não por uma cooperação intrínseca, física e imediata, mas por uma cooperação extrínseca, moral e mediata (por Maria), o que é ainda, no entanto, verdadeira cooperação[20].

A predestinação de José nada mais é que o próprio decreto da Encarnação

O que acabamos de dizer aparecerá mais claramente ainda se considerarmos que o decreto eterno da Encarnação não se refere apenas à Encarnação em geral, abstração feita às circunstâncias de tempo e de lugar, mas à Encarnação hic et nunc, quer dizer, a Encarnação do Filho de Deus que, em virtude da operação do Espírito Santo, deve ser concebido em tal instante pela Virgem Maria, unida a um homem da casa de Davi que se chama José: “Missus est angelus Gabriel a Deo in civitate Galileæ, cui nomem Nazareth, ad virginem desponsatam viro, cui nomem erat Joseph, de domo David – Foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão, que se chamava José, da casa de Davi.” (Luc., 1, 26-27). Tudo leva a crer que José foi predestinado a ser o pai adotivo do Verbo feito carne antes de ser predestinado à glória. A razão é que a predestinação do Cristo como homem à filiação divina natural é anterior à de qualquer homem eleito, pois o Cristo é o primeiro dos predestinados[21]. Ora, a predestinação do Cristo à filiação divina natural não é outra senão o próprio decreto da Encarnação, o qual se refere à Encarnação hic et nunc. Esse decreto implica por si mesmo a predestinação de Maria à maternidade divina, e a de José a ser pai adotivo e protetor do Filho de Deus feito homem. Assim como a predestinação do Cristo à filiação divina natural é superior à sua predestinação à glória e a precede, como admitem os tomistas (in IIIam.,q. 24, a. 1 e 2); e como a predestinação de Maria à maternidade divina precede (in signo priori) sua predestinação à glória, como vimos no principio desta obra; assim a predestinação de José a ser pai adotivo do Verbo feito carne precede para ele a predestinação à glória e à graça. Em outros termos, José foi predestinado ao mais alto grau de glória depois de Maria e, em seguida, ao mais alto grau de graça e de caridade, porque seria chamado a ser o digno pai adotivo e protetor do Homem Deus. Vê-se por aí a elevação de sua missão, única no mundo, já que sua predestinação primeira pertence ao próprio decreto da Encarnação. É o que se diz correntemente quando se afirma que José foi criado e posto no mundo para ser o pai adotivo do Verbo feito carne, e, para que fosse digno pai, Deus quis para ele um altíssimo grau de glória e de graça.

O caráter próprio da missão de São José

Esse ponto é admiravelmente bem exposto por Bossuet no seu primeiro panegírico desse grande santo (3° ponto), quando diz: “Entre todas as vocações, chamo a atenção para duas que, nas Escrituras, parecem diametralmente opostas: a primeira, a dos apóstolos, a segunda a de São José. Jesus foi revelado aos apóstolos para anunciá-lo por todo o universo; foi revelado a José para calá-lo e para escondê-lo. Os apóstolos são as luzes para mostrar Jesus Cristo ao mundo. José é um véu para cobri-lo; e sob esse véu misterioso se esconde a virgindade de Maria e a grandeza do Salvador das almas... Aquele que glorifica os apóstolos com a honra da pregação glorifica José pela humildade do silêncio.” A hora da manifestação do mistério da Encarnação não chegara ainda; essa hora deve ser preparada por trinta anos de vida escondida. A perfeição consiste em fazer aquilo que Deus quer, cada um segundo a sua vocação; mas no silêncio e na obscuridade a vocação de José ultrapassa a vocação dos apóstolos, porque toca mais de perto o mistério da Encarnação redentora. José, depois de Maria, foi quem esteve mais próximo do autor da graça, e, no silêncio de Belém, durante a estada no Egito e na casinha de Nazaré, recebeu mais graça do que nenhum outro santo jamais recebeu.Sua missão foi dupla: Em relação à Maria, ele preservou-lhe a virgindade contratando com ela um verdadeiro casamento, porém absolutamente santo. O anjo do Senhor lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria como esposa, porque o que nela foi concebido é obra do Espírito Santo” (Mat.,1, 20; Luc., 2, 5). Maria é sua esposa, é um verdadeiro casamento, como explica Santo Tomás (IIIª, q. 29, a. 2) mostrando suas conveniências: nenhuma suspeita devia surgir, por menor que fosse, quanto à honra do Filho e à de sua Mãe; se alguma vez essa honra estivesse em causa, José, o testemunho mais autorizado e menos suspeito, estaria lá para atestar-lhe a integridade. Além disso, Maria encontrava em José ajuda e proteção. Ele a amou com o amor mais puro, mais devotado, um amor teologal, pois a amava em Deus e por Deus. Era a união sem mancha mais respeitosa com a criatura mais perfeita que jamais existiu no mais simples contexto, o de um pobre operário de aldeia. Assim, José se aproximou mais intimamente do que qualquer santo daquela que é a Mãe de Deus e a Mãe espiritual de todos os homens, dele mesmo, José, e a distribuidora de todas as graças. A beleza de todo o universo não é nada ao lado da sublime união dessas duas almas, união criada pelo Altíssimo, que enche de admiração os anjos e alegra o próprio Senhor. Em relação ao Verbo feito carne, José velou por ele, protegeu-o, contribuiu para sua educação humana. Chamam-no pai nutrício, ou melhor, pai adotivo, mas esses nomes não podem exprimir plenamente essa relação misteriosa e cheia de graça. É acidentalmente que um homem se torna pai adotivo, ou alimentador de uma criança, ao passo que não foi por acidente que José se tornou o pai adotivo do Verbo feito carne; ele foi criado e posto no mundo para isso; esse é o objeto primeiro de sua predestinação e a razão de todas as graças que recebeu. Bossuet exprime-o admiravelmente[22]: “Quando não é a natureza que dá um pai paternal, onde encontrar um coração paternal? Em uma palavra, São José, não sendo pai natural, como teria um coração de pai por Jesus? É aí que é preciso entender que o poder divino age nessa obra. É por um efeito desse poder que José tem um coração de pai, e, se a natureza não lho dá, Deus lhe faz um com suas próprias mãos. Pois é d’Ele que está escrito que dirige como quer as inclinações... Ele faz um coração de carne em alguns quando os enternece pela caridade... E não faz em todos os fiéis um coração não de escravo, mas de criança, quando lhes envia o Espírito de seu Filho? Os apóstolos tremiam ao menor perigo, mas Deus lhes deu um coração novo, e sua coragem tornou-se invencível... Pois foi essa mesma mão que deu um coração de pai a São José e um coração de filho a Jesus. Por isso Jesus obedecia a São José, e José nele mandava sem temor. E de onde vem essa ousadia de mandar em seu Criador? É que o verdadeiro pai de Jesus Cristo, esse Deus que o engendra desde toda a eternidade, tendo escolhido o divino José para servir de pai, no meio dos tempos, a seu Filho único, fez de alguma maneira correr no seio de José um raio ou um brilho desse amor infinito que Ele tem por seu Filho; foi o que lhe mudou o coração, foi o que lhe deu um amor de pai; de tal modo, que o justo José, que sente em si mesmo um coração paternal, formado de uma vez pela mão de Deus, sente também que Deus lhe ordena usar de autoridade paternal, e ousa assim comandar aquele que reconhece ser o seu mestre.” Quer dizer, José foi predestinado primeiramente para “servir de pai ao Salvador, que não podia ter um aqui em baixo”, e depois todos os dons lhe foram concedidos para que ele fosse o digno protetor do Verbo feito carne. Ademais, há que dizer com que fidelidade José guardou o triplo depósito que lhe fora confiado: a virgindade de Maria, a pessoa de Jesus Cristo e o segredo do Pai eterno, o da Encarnação de seu Filho, segredo para ser guardado até que chegasse a hora da manifestação desse mistério[23]. O Papa Pio XI, em discurso pronunciado na sala do consistório no dia da festa de São José, em 19 de março de 1928, dizia, após ter falado da missão de João Batista e da de são Pedro: “Entre essas duas missões aparece a de José: recolhida, tácita, quase despercebida, desconhecida, que não devia iluminar-se senão alguns séculos mais tarde, um silêncio a que devia suceder, sem dúvida, mas muito tempo depois, um esplendoroso cântico de glória. E, de fato, lá onde é mais profundo o mistério, onde mais espessa é a noite que o cobre, e maior o silêncio, é justamente lá que está a mais alta missão, mais brilhante o cortejo de virtudes requeridas e de méritos chamados, por uma feliz necessidade, a lhe fazer eco. Missão única, altíssima, a de guardar o Filho de Deus, o Rei do mundo, a missão de guardar a virgindade, a santidade de Maria, a missão única de entrar em participação no grande mistério escondido aos olhos dos séculos e de cooperar assim na Encarnação e na Redenção!” – O que quer dizer que foi em vista dessa missão única que a Providência concedeu a José todas as graças que ele recebeu; em outros termos: José foi predestinado primeiramente a servir de pai ao Salvador, depois à glória e à graça que convinham a tão excepcional vocação.

As virtudes e os dons de São José

As virtudes de São José são, sobretudo as virtudes da vida escondida, em grau proporcionado ao da graça santificante: a virgindade, a humildade, a pobreza, a paciência, a prudência, a fidelidade, que não pode ser abalada por nenhum perigo, a simplicidade, a fé esclarecida pelos dons do Espírito Santo, a confiança em Deus e a caridade perfeita. Ele guardou o depósito que lhe foi confiado com uma fidelidade proporcionada ao valor desse tesouro inestimável. Cumpriu o preceito: Depositum custodi. Sobre essas virtudes da vida escondida Bossuet faz este apanhado geral[24]: “Um vicio ordinário nos homens é dar-se inteiramente às coisas de fora e negligenciar as de dentro; trabalhar para se mostrar e para aparecer, desprezar o efetivo e o sólido; sonhar muitas vezes com o que querem parecer e não pensar no que devem ser. É por isso que as virtudes que são estimadas são aquelas que se misturam nos negócios e que entram no comércio dos homens; ao contrário, as virtudes escondidas, interiores, onde o público não toma parte, onde tudo se passa entre Deus e o homem, não só não são seguidas mas nem sequer compreendidas. E no entanto é nesse segredo que consiste todo o mistério da verdadeira virtude... É preciso considerar um homem em si mesmo, antes de meditar qual o lugar que se lhe dará entre os outros; e, se não trabalharmos sobre esse fundo, todas as outras virtudes, por mais brilhantes que sejam, não passarão de virtudes de vitrina... elas não fazem o homem segundo o coração de Deus. – Ao contrário, José, homem simples, procurou Deus, José, homem retraído, encontrou Deus.” A humildade de José deve ser confirmada pelo pensamento da gratuidade de sua vocação excepcional. Ele devia perguntar-se: Por que o Altíssimo me deu seu filho único para guardar, a mim, José, e não a qualquer outro homem da Judéia, da Galiléia, ou de qualquer outra região ou de outro século? Foi unicamente pelo livre agrado de Deus, prazer que é em si mesmo sua razão, e pelo qual José foi livremente preferido, escolhido, predestinado desde toda a eternidade antes de tal ou qual outro homem, a quem o Senhor poderia ter concedido os mesmos dons e uma mesma fidelidade a fim de o preparar para essa excepcional missão. Vemos nessa predestinação um reflexo da gratuidade da predestinação do Cristo e da de Maria. O conhecimento do valor dessa graça e de sua gratuidade absoluta, longe de prejudicar a humildade de José, confirmou-a. Pensava em seu coração: “O que tens que não recebestes?” José aparece como o mais humilde de todos os santos depois de Maria, mais humilde do que qualquer dos anjos; e, se é o mais humilde, é por isso mesmo o maior de todos, pois, sendo conexas as virtudes, a profundeza da humildade é proporcionada à elevação da caridade, como a raiz da árvore é tanto mais profunda quanto mais alta é a árvore: “Aquele dentre vós todos que é o menor”, disse Jesus, “este será o maior” (Luc., 9, 48). Como nota ainda Bossuet: “Possuindo o maior tesouro, por uma graça extraordinária do Pai eterno, José, longe de se vangloriar dos seus dons ou de mostrar suas vantagens, esconde-se tanto quanto pode aos olhos dos mortais, gozando pacificamente com Deus do mistério que lhe foi revelado, e das riquezas infinitas que Ele lhe deu para guardar.”[25] – “José tem em casa o que atrairia os olhos de toda a terra, e o mundo não o conhece; possui um Deus-Homem, e não diz palavra; é testemunha de um grande mistério, e saboreia-o em segredo, sem o divulgar.”[26] Sua fé é inabalável apesar da obscuridade do inesperado mistério. A palavra de Deus transmitida pelo anjo esclarece acerca da concepção virginal do Salvador: José poderia ter hesitado em crer em coisa tão extraordinária; acreditou firmemente com a simplicidade de seu coração. Por sua simplicidade e sua humildade ele ascende às alturas de Deus. A obscuridade não tarda a reaparecer: José era pobre antes de ter recebido o segredo do Altíssimo; torna-se mais pobre ainda, observa Bossuet, quando Jesus vem ao mundo, pois vem com seu despojamento e desapegado de tudo para unir-se a Deus. Não há lugar para o Salvador na última das hospedarias de Belém. José deve ter sofrido por não ter nada para dar a Maria e seu Filho. Sua confiança em Deus manifesta-se na provação, pois a perseguição começa pouco depois do nascimento de Jesus. Herodes quer matá-lo. O chefe da Sagrada Família deve esconder Nosso Senhor, partir para um país longínquo, onde ninguém o conhece e onde não sabe como poderá ganhar a vida. Ele parte, pondo toda a confiança na Providência. Seu amor de Deus e das almas não cessa de crescer na vida escondida de Nazaré, sob a constante influência do Verbo feito carne, lar de graças sempre novas e sempre mais altas para as almas dóceis que não põem obstáculo naquilo que Ele lhes quer dar. Dissemos mais acima, a propósito do progresso espiritual de Maria, que a ascensão dessas almas é uniformemente acelerada, quer dizer, elas voltam-se tanto mais ligeiramente para Deus quanto mais d’Ele se aproximam ou quanto mais são atraídas por Ele. Essa lei da gravidade espiritual das almas justas se realiza em José; a caridade não cessa de crescer nele cada vez mais prontamente até a morte; o progresso de seus últimos anos foi muito mais rápido do que o dos primeiros anos, pois, encontrando-se mais perto de Deus, era mais fortemente atraído por Ele. Com as virtudes teologais cresceram também incessantemente nele os sete dons do Espírito Santo, que são conexos com a caridade. Os dons de inteligência e de sabedoria tornaram-lhe viva a fé viva, e, cada vez mais encantada, sua contemplação voltava-se para a infinita bondade do Altíssimo, de modo muito simples, mas muito elevado. Foi, em sua simplicidade, a contemplação sobrenatural mais alta depois da de Maria. Essa contemplação amorosa lhe era muito doce, mas lhe pedia a mais perfeita abnegação e o mais doloroso sacrifício, quando se lembrava das palavras do velho Simeão: “Essa criança será um sinal de contradição”, e das que disse a Maria: “E a vós uma espada vos traspassará a alma.” A aceitação do mistério da Redenção pelo sofrimento aparecia a José como a consumação dolorosa do mistério da Encarnação, e ele precisava de toda a generosidade de seu amor para oferecer a Deus, em sacrifício supremo, o Menino Jesus e sua santa Mãe, aos quais ele amava incomparavelmente mais do que a sua própria vida. A morte de São José foi uma morte privilegiada; como a da Santíssima Virgem, foi, como diz São Francisco de Sales, uma morte de amor[27]. Ele admite também, com Suárez, que José estaria entre os santos que, segundo São Mateus (27, 52 e ss), ressuscitaram depois da ressurreição do Senhor e se manifestaram na cidade de Jerusalém; e sustenta que essas ressurreições foram definitivas e que José entrou no céu de corpo e alma. São Tomás é muito reservado quanto a este ponto: depois de ter admitido que as ressurreições que se seguiram à de Jesus foram definitivas (in Mt 27, 52, e IV Sent., 1, IV, dist. 42, q. 1, a. 3), mais tarde, examinando as razões inversas dadas por Santo Agostinho, achou que estas eram muito mais sólidas (cf. IIIª, q. 53, a. 3, ad. 2).

O atual papel de São José na santificação das almas

Tanto o humilde carpinteiro teve uma vida escondida na terra quanto é glorificado no céu. Aquele a quem o Verbo feito carne foi submisso aqui em baixo conserva no céu um poder de intercessão incomparável. Leão XIII, na encíclica Quamquam pluries, encontra na missão de São José em relação à Sagrada Família “as razões por que ele é o padroeiro e protetor da Igreja Universal... Assim como Maria, Mãe do Salvador, é Mãe espiritual de todos os cristãos... assim a José lhe foi confiada a multidão dos cristãos... Ele é o defensor da Santa Igreja, que é verdadeiramente a casa do Senhor e o reino de Deus na terra.” O que impressiona nesse papel atual de São José até o fim dos tempos é que ele une admiravelmente prerrogativas aparentemente opostas. Sua influência é universal sobre toda a Igreja, que ele protege, e no entanto, a exemplo da Providência, se estende aos menores detalhes; “modelo dos operários”, interessa-se por cada um que lhe implora. É o mais universal de todos os santos pela sua influência e faz encontrar um par de sapatos a um pobre que os esteja precisando. Evidentemente, sua ação é, sobretudo de ordem espiritual, mas estende-se também às coisas temporais; é o “sustentáculo das famílias, das comunidades religiosas, a consolação dos infelizes, a esperança dos doentes”. Vela pelos cristãos de todas as condições, de todos os países, pelos pais de família, pelos esposos, como pelas virgens consagradas; pelos ricos, para lhes inspirar uma distribuição caridosa de seus bens, como pelos pobres, para socorrê-los. Está atento aos maiores pecadores como às almas mais avançadas. É o padroeiro da boa morte, o das causas desesperadas, é terrível para com os demônios que parecem triunfar, e é também, diz Santa Teresa, o guia das almas interiores nas vias da oração. Ele tem em sua influência um reflexo maravilhoso da “Sabedoria divina que atinge com força de uma à outra extremidade do mundo e dispõe tudo com doçura” (Sb 8, 1). O esplendor de Deus esteve e permanece eternamente sobre ele; a graça não cessou de frutificar nele, e ele quer que dela participem todos os que aspiram verdadeiramente à “vida escondida em Deus com Cristo” (Col 3, 3.). (Capítulo VII do livro A Mãe do Salvador e seu amor por nós) NOTAS: [1] Sermo in Nativitatem Virginis Mariæ, IVª consideratio. [2] Sermo I de S. Joseph, c. III. Opera, Lion, 1650, t. IV, p. 254. [3] Summa de donis S. Joseph, 1522, nova edição do p. Berthier, Roma, 1897. [4] In Summam S. Thomæ, IIIª, q. 29, disp. 8, sect. I. [5] Sermone de S.Giuseppe. Discorsi morali, Nápoles, 1841. [6] Saint Joseph intime, Paris, 1920. [7] Tractatus de S. Joseph,Paris, s.d. (1908). [8] La Grandezza di San Giuseppe, Roma,1927, pp. 36 ss. [9] Epist. Encíclica “Quanquam pluries”, 15 de agosto de 1899. [10] Ainda não o estava na época em que este livro foi escrito. [N. do T.] [11] Cf. Santo Tomás, IIIª, q. 7ª, 9. [12] Cf. ibidem, q. 27, a. 5. [13] Cf. ibidem, IIª IIæ, q. 1, a. 7, ad. 4. [14] Cf. Santo Tomás, Iª, q. 94, a. 3. [15] Cf. Dic. Teol. Cat., art. José (São), col. 1518. [16] Homil. II super Missus est, prope finem. [17] Sermo I de S. Joseph. [18] Summa de donis sancti Joseph (obra muito louvada por Bento XIV), Paris IIIª, c. XVIII. Todo esse capítulo expõe a superioridade da missão de São José sobre a dos Apóstolos. – Ver também ibidem, c. XVII: “De dono plenitudinis gratiæ (in S. José).” [19] In Summum S. Thomæ, IIIª, q. 29, disp. 8, s. 1. [20] Cf. Mons. Sinibaldi, La grandessa di San Giuseppe, Roma, 1927, pp. 36 ss. [21] Cf. Santo Tomás, IIIª, q. 24, a. 1, 2, 3, 4. [22] Primeiro panegírico de São José, 2° ponto, ed. Lebarcq, t. II, pp. 135 ss. [23] Cf. Bossuet, ibidem, preâmbulo. [24] Segundo panegírico de São José, preâmbulo. [25] Primeiro panegírico de São José, preâmbulo. [26] Segundo panegírico de São José, 3° ponto. [27]

A MISSÃO EXCEPCIONAL DE JOSÉ

Coube a São João Batista a missão de anunciar a vinda imediata do Messias. Pode-se, pois dizer que ele foi o maior dos precursores de Jesus no Antigo Testamento. É assim que Santo Tomás entende a palavra de Jesus em São Mateus (11,11): "Em verdade, vos digo, entre os nascidos de mulheres não surgiu alguém maior do que João Batista". Mas, logo a seguir, acrescenta Nosso Senhor: "Entretanto, o menor no reino dos céus é maior que ele". O reino dos céus é a Igreja da terra e do céu: é o Novo Testamento, mais perfeito como estado do que o Antigo, embora certos justos do Antigo tenham sido mais santos que muitos do Novo. E quem na Igreja é o menor? Estas são palavras misteriosas que têm sido diversamente interpretadas. Fazem pensar nestas outras pronunciadas mais tarde por Jesus: "Aquele que dentre vós for o menor este é o maior" (Lc 9, 48). O menor, quer dizer o mais humilde, o servidor de todos; é, pela conexão e proporção das virtudes, o que tem mais alta caridade. Quem na Igreja é o mais humilde? Sem dúvida, é aquele que não foi nem Apóstolo, nem Evangelista, nem mártir (pelo menos exteriormente), nem pontífice, nem padre, nem doutor, mas que conheceu e amou o Cristo Jesus não menos por certo que os apóstolos, os evangelistas, os mártires, os pontífices e os doutores: é o humilde operário de Nazareth, o humilde José. Os Apóstolos foram incubidos de fazer com que os homens conhecessem o Salvador, para pregar-lhes o Evangelho a fim de salvá-los. Sua missão, como a de São João Batista, é da ordem da graça necessária a todos para a salvação. Mas há uma ordem ainda superior à da graça. É aquela que é constituída pelo próprio mistério da Encarnação, ou seja, a ordem da união hipostática ou pessoal da Humanidade de Jesus com o próprio Verbo de Deus. A esta ordem superior se prende a missão singular de Maria, a maternidade divina e também, de certa forma, a missão oculta de José. Este assunto foi exposto de diversas maneiras por São Bernardo, São Bernardino de Siena, o dominicano Isidoro de Isolanis, Suarez e muitos autores recentes. Bossuet diz admiravelmente no seu primeiro panegírico desse grande santo: "Dentre todas as vocações noto duas, nas Escrituras, que parecem diametralmente opostas: uma é a dos Apóstolos; a segunda, a de José. Jesus é revelado aos Apóstolos para que o anunciem por todo o universo; e é revelado a José para que silencie e o esconda. Os Apóstolos são luzeiros para mostrarem Jesus ao mundo inteiro. José é um véu para encobri-lo; e sob esse véu misterioso oculta-se-nos a virgindade de Maria e a grandeza do Salvador das almas. Aquele que glorifica os Apóstolos concedendo-lhes a honra da pregação glorifica José pela humildade do silêncio". À hora da manifestação do mistério do Natal ainda não era chegada, essa hora deveria ser preparada por trinta anos de vida oculta. A perfeição consiste em cumprir a vontade de Deus, cada um segundo sua vocação. Mas a vocação toda excepcional de José supera por certo, no silêncio e na obscuridade, a dos maiores Apóstolos: pois ela se relaciona mais de perto com o mistério da Encarnação redentora. José, depois de Maria, esteve mais próximo que ninguém do próprio Autor da graça. Assim pois, no silêncio de Belém, durante a estadia no Egito e na pequena casa de Nazaré ele terá recebido mais graças que jamais a qualquer outro santo seria dado receber.

Qual a missão especial de José com relação à Maria?

Consistiu ela, sobretudo em preservar a virgindade e a honra de Maria, contraindo com a futura Mãe de Deus um verdadeiro matrimônio, mas absolutamente santo. Conforme relata o Evangelho de São Mateus (1, 20): "O anjo do Senhor, que apareceu em sonho a José lhe diz: "José, filho de Daví, não temas receber Maria como tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo". Maria é perfeitamente sua esposa. Trata-se de um matrimônio verdadeiro (cf. Santo Tomás, III, q. 29, a. 2), mas inteiramente celeste e que devia ter fecundidade inteiramente divina. A plenitude inicial de graça dada à Virgem em vista da maternidade divina fazia apelo em certo sentido ao mistério da Encarnação. Conforme diz Bossuet: "A virgindade de Maria atraiu Jesus do céu... Se sua pureza a tornou fecunda, não hesitarei, no entanto, em afirmar que José teve sua parte nesse grande milagre. Pois tal pureza angélica, apanágio da divina Maria, foi também o desvelo do justo José". Era a união sem mácula e inteiramente respeitosa com a criatura mais perfeita que jamais existira, em ambiente extremamente simples, qual o de um pobre artesão de aldeia. Assim, José se aproximou mais intimamente do que qualquer outro santo daquela que é a Mãe de Deus, daquela que é também a Mãe espiritual de todos os homens e dele próprio José, daquela que é Co-Redentora, Mediadora universal, dispensadora de todas as graças. Por todos esses títulos José amou Maria com o mais puro e devotado amor; era de certo um amor teologal, porquanto ele amava a Virgem em Deus e por Deus, por toda a glória que ela dava a Deus. A beleza de todo o universo nada era em face da sublime união dessas duas almas, união criada pelo Altíssimo, que encantava os anjos e ao próprio Senhor enchia de júbilo.

Qual foi a missão excepcional de José perante o Senhor?

Em verdade, o Verbo de Deus feito carne foi confiado a ele, José, de preferência a qualquer outro justo dentre os homens de todas as gerações. O santo velho Simeão teve o menino Jesus em seus braços por alguns instantes e viu nele a salvação dos povos ― "lumen ad revelationem gentium" ― mas José velou todas as horas, noite e dia, sobre a infância de Nosso Senhor. Muitas vezes teve em suas mãos aquele em quem via seu Criador e Salvador. Recebeu dele graças sobre graças durante os vários anos em que viveu com ele na maior intimidade do dia-a-dia. Viu-o crescer. Contribuiu para sua educação humana. Jesus lhe foi submisso. É comumente chamado de "pai nutrício do Salvador"; porém em certo sentido foi mais que isso, pois como nota Santo Tomás é acidentalmente que após o casamento um homem se vem a tornar "pai nutrício" ou "pai adotivo", enquanto que não foi absolutamente de forma acidental que José ficou encarregado de zelar por Jesus. Ele foi criado e posto no mundo precisamente para tal fim. Esta foi a sua predestinação. Foi em vista de tal missão divina que a Providência lhe concedeu todas as graças recebidas desde a infância: graça de piedade profunda, de virgindade, de prudência, de fidelidade perfeita. Sobretudo, nos desígnios eternos de Deus, toda a razão de ser da união de José com Maria era a proteção e a educação do Salvador; Deus lhe deu um coração de pai para velar pelo menino Jesus. Esta a missão principal de José, em vista da qual ele recebeu uma santidade proporcionada a seu papel no mistério da Encarnação, mistério que domina a ordem da graça e cujas perspectivas são infinitas. Este último ponto foi bem esclarecido por Mons. Sinibaldi em sua recente obra La Grandeza di San Giuseppe, p. 33-36, na qual mostra que São José foi predestinado desde toda a eternidade para tornar-se o esposo da Virgem Santíssima e explica, com Santo Tomás, a tríplice conveniência dessa predestinação. O Doutor Angélico a demonstrou ao indagar (III q. 29, a. 1) se o Cristo deveria nascer de uma virgem que tivesse contraído um verdadeiro casamento. E concluiu que devia ser assim, tanto para o próprio Cristo, como para sua Mãe, e também para nós. Isso convinha grandemente ao próprio Nosso Senhor para que ele não fosse considerado, até que chegasse a hora da manifestação do mistério do seu nascimento, como um filho ilegítimo, e também para que ele fosse protegido em sua infância. Para a Virgem não era menos conveniente, a fim de que ela não fosse considerada culpada de adultério e como tal viesse a ser lapidada pelos judeus, conforme notou São Jerônimo, e ainda para que ela própria fosse protegida em meio às dificuldades e à perseguição que iria começar com o nascimento do Salvador. Foi outrossim, acrescenta Santo Tomás, muito conveniente para nós, porquanto pelo testemunho insuspeito de São José tomamos conhecimento da concepção virginal do Cristo: segundo a ordem das coisas humanas, representou para nós esse testemunho um admirável apoio ao de Maria. Enfim, era soberanamente conveniente para que nós encontrássemos em Maria ao mesmo tempo o perfeito modelo das virgens como das esposas e mães cristãs. Explica-se assim, segundo muitos autores, que o decreto eterno da Encarnação ― estabelecendo a maneira como hic et nunc esse fato se devia realizar e em quais circunstâncias determinadas ― envolva não somente Jesus e Maria mas também José. Desde toda eternidade, com efeito, estava decidido que o Verbo de Deus feito carne nasceria milagrosamente de Maria sempre virgem, unida ao justo José pelos laços de um matrimônio verdadeiro. A execução desse decreto providencial é assim referida em São Lucas (1, 27): "Missus est Angelus Gabriel a Deo, in civitatem Galileae, cui nomen Nazareth, ad virginem desponsatam viro, cui nomen erat Joseph, de domo David, et nomen virginis Maria". [O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão por nome José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria]. São Bernardo chama São José de "magni consilii coadjutorem fidelis simum" (coadjutor fidelíssimo do magno conselho"). Por isso é que Mons. Sinibaldi, após Suarez e muitos outros, afirma, ibid., que o ministério de José é em certo sentido confinante, em seu nível, com a ordem hipostática. Não que José tenha cooperado intrinsecamente, como instrumento físico do Espírito Santo, para a realização do mistério da Encarnação, pois nesse acontecimento seu papel é muito inferior ao de Maria, Mãe de Deus; entretanto, ele foi predestinado para ser, na ordem das causas morais, o guardião da virgindade e da honra de Maria, ao mesmo tempo que o protetor de Jesus menino. É preciso precaver-se aqui contra certos exageros que falseariam a expressão desse grande mistério; o culto devido a São José não vai além especificamente do de dulia prestado aos outros santos, mas tudo faz pensar que ele merece receber, mais do que todos os outros santos, esse culto de dulia. Por isso é que a Igreja, em suas orações menciona o nome de José imediatamente após o de Maria e antes do dos Apóstolos na oração A cunctis (a todos nós...), por meio da qual se implora a proteção de todos os Santos. Se São José não é mencionado no Canon da missa, há todavia para ele um prefácio especial e o mês de março lhe é consagrado. Num discurso pronunciado na Sala Consistorial no dia da festa de São José, em 19 de março de 1928, S.S. Pio XI comparava nestes termos a vocação de São José com a de São João Batista e com a de São Pedro: "Fato sugestivo é ver-se sugirem, bem vizinhas e brilharem quase contemporâneas, certas figuras tão magníficas. Primeiro, São João Batista que se ergue no deserto com sua voz, ora grave ora suave, como leão que ruge e como o amigo do Esposo, que se rejubila pela glória do Esposo, para afinal oferecer à face do mundo a maravilhosa glória do martírio. Depois, Pedro que ouve do divino Mestre estas sublimes palavras, pronunciadas também elas à face do mundo e dos séculos: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja; ide e pregai ao mundo inteiro", missão grandiosa, divinamente resplandecente. Entre essas duas missões aparece a de São José: missão recolhida, calada, quase despercebida, que não se evidenciaria senão alguns séculos mais tarde; um silêncio ao qual sucederia, mas muito tempo depois, um sonoro canto de glória. Pois, onde mais profundo o mistério, mais espesso o véu que o encobre, e maior o silêncio, é justamente ai que mais alta é a missão, como mais brilhante o cortejo das virtudes exigidas e dos méritos requeridos para, por feliz necessidade, com elas se conjugarem. Missão única, muito alta, a de guardar o Filho de Deus, o Rei do mundo, e de guardar a virgindade e a santidade de Maria; missão única, a de ter participação no grande mistério ocultado aos olhos dos séculos, e de assim cooperar na Encarnação e na Redenção! Toda a santidade de José consiste precisamente no cumprimento, fiel até o escrúpulo, dessa missão tão grande e tão humilde, tão alta e tão escondida, tão esplêndida e tão envolta em trevas".